Tehuti - Guardião das Palavras
Semana passada iniciamos o mês de abril com o dia da mentira, popularmente conhecido como 1º de abril, celebrado em várias partes do mundo. Sua origem exata é incerta, mas uma das teorias mais populares remonta ao século XVI, na França, após a mudança do calendário juliano para o gregoriano.
Tal costume espalhou-se pelo mundo, sendo amplamente praticado até os dias de hoje, onde as pessoas pregam peças umas nas outras com mentiras ou histórias falsas, geralmente de forma inofensiva e humorística, entretanto, é preciso considerar que tal envolvimento com a mentira pode ser
abertura para que, culturalmente, as pessoas exercitem suas capacidades de inventar histórias de formas negativas e até chegar à situações absurdas de convivência e de relacionamento.
Muitas vezes aprendemos a falar mentiras para nós mesmos e para os outros, acreditando que é “normal”, mas estamos apenas reproduzindo valores culturais que não são nossos. Na contrapartida dessa prática, você sabia que a visão de mundo africana, considera que a honestidade e a integridade são valores éticos fundamentais para a nossa vida que nos dá noção do poder do uso das nossas
palavras e falas?
Nossos ancestrais africanos entendiam que não se deve proferir quaisquer palavras para as pessoas, especialmente quando elas ofendem a moral desta, ainda que seja na forma de “brincadeiras”. Em várias culturas africanas tradicionais, existe o valor da oralidade, assim viver a mentira tem consequências negativas, não apenas para o indivíduo que mente, mas também para sua comunidade, interferindo até mesmo no equilíbrio espiritual.
Isto porque nossa história não começa na terra, somos espíritos! Essa é a percepção da sabedoria dos ancestrais africanos sobre nossa origem. O ser humano é visto como mediador entre os dois planos: Terra (Geb) e Céu (Nut) e deve valorizar o poder do verbo.
A verdadeira história da África é encantadora, mas aqui no Brasil onde na grande maioria das vezes, a educação escolar valoriza em excesso as referências da Europa não aprendemos assim e esse sequestro cultural dos valores africanos pode afetar também nossas vidas, porque, enquanto outra
pessoa conta a sua história, você não sabe de fato a dimensão que você é! Por isso, ainda que um dia, a mentira tenha chegado para nós, seja na forma de “brincadeiras” ou em uma dimensão mais profunda que doeu, nos intoxicou, nos trouxe limitações identitárias que afetam até nossa subjetividade, desistir não é uma opção! Só nos resta desaprender e ir em busca de nossas próprias referências, para reaprender e seguir em frente com compromisso com nossa verdade.
Existe um provérbio africano que diz: “Pode ser esquecer de uma canção, não de uma palavra cara”. Consequência de nossos pensamentos, nossas palavras e falas, têm força e colocam o mundo em movimento cada vez que são pronunciadas. Ao proferirmos mensagens de bençãos ou devastadoras em nossas vidas certamente não vamos esquecer, pois elas são como sementes e precisamos ter responsabilidade e cuidado ao lançá-las!
Uma das tecnologias ancestrais de cura deixada pelo legado africano, tem também na força das palavras e falas, medicamento positivo para nossa família e comunidade. Assim, em prol de já começar a manifestar a partir de nós, a busca pela renovação de nossos corações e resgate de nossas mentes, compartilho trecho de fortalecimento para elevar nossa vibração, contido no livro Mulher Sagrada, de Queen Afua:
Prece ao Espírito da mulher sagrada
Mulher sagrada em evolução,
Mulher sagrada reativada,
Espírito Sagrado, mantenha-me por perto.
Proteja-me de todo mal e medo
Ocultos sob as pedras da vida.
Dirija meus passos no rumo certo enquanto viajo nessa visão.
Espírito Sagrado,
Envolva-me em luz perfeita.
Unja-me em sua pureza sagrada, paz e percepção divina.
Abençoe-me totalmente, enquanto compartilho essa vida sagrada.
Ensina-me, Espírito Sagrado, a ficar em sintonia com o universo.
Ensina-me a curar com os elementos internos e externos do ar, fogo, água e terra.
Este texto é dedicado para todas às primeiras mães africanas do planeta que tinha o dom de curar e que ele possa servir de inspiração para que nós, mulheres, possamos ir em busca da nossa verdadeira história pois existem outras formas de ser, estar e pensar este mundo para além do que o eurocentrismo ensina.
E nossa conversa não termina aqui.
Que tal continuar essa reflexão interagindo a partir de um vídeo e uma música que vou compartilhar no fórum de nossa comunidade?
Ficou curiosa? Vamos juntas!
Se você é uma mãe negra, acesse nosso fórum e contribua com essa reflexão!
Elisandra Campos Souza
Referências:
AFUA, Queen. Mulher Sagrada: um guia para curar o corpo, a mente e o espírito feminino. Trad. Thais Costa – 1ªed. – São Paulo, SP: versos, 2021.
SENAPKON, Fabrice F. Kapoholo. Os provérbios africanos: um encontro com a sabedoria ancestral africana. Guia 2.0, online perfil @axovieducacao.
Lindo texto!. Parabéns !
Linda mensagem ❤️
Texto potente!
Parabéns e vida longa a essa coluna!
Lindo texto! Parabéns! 👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽
Texto maravilhoso, irmã!❤️Parabéns!👏🏾Sucesso!💫 Prosperidade!🌱