Por Bárbara Tavares, de Salvador - Bahia
Recentemente, todas nós, ou senão, a maioria de nós, fomos atravessadas pelo depoimento da artista Iza, em que ela se pronunciou sobre o término do seu relacionamento com o pai de sua filha, por causa de traição. Lembrando que a Iza está grávida.
Digo que essa notícia me atravessou porque sou mãe solo e posso dizer que fui abandonada pelo pai de meu filho quando ainda estava grávida, pois não tive atenção, afeto, respeito, mesmo vivendo sob o mesmo teto na época. Mas isso é papo para outro dia.
Conversando com mulheres e homens também, ouvindo comentários, o que vi reproduzir muito foi: “Como esse homem faz isso com a Iza, que é uma mulher bonita, bem-sucedida financeiramente, com carreira promissora?” E aí vem a pergunta: então é normal e aceitável que homens se comportem assim com mulheres pobres, que não tenham sucesso profissional e/ou que dependam desses homens financeiramente?
Muitas de nós nos pegamos com esses pensamentos (e me incluo nesse grupo) porque, numa cultura e sociedade eurocentradas, é normalizado esse tipo de comportamento de homens com suas parceiras e não nos questionamos sobre a gravidade e a necessidade de trazer essa pauta para discussão para podermos acolher e também procurar entender o comportamento humano, principalmente dos homens.
A nossa querida sábia e rainha (a rainha fica por minha conta) Sobonfu Somé, na sua perfeita obra *O Espírito da Intimidade*, nos mostra que, na sua aldeia do povo Dagara, os homens da aldeia se reuniam em isolamento, em que colocavam para fora todo o seu sentir, suas fragilidades, sua vulnerabilidade, choravam. Essas reuniões são momentos em que esses homens se libertam de tudo o que lhes aflige a alma e impede que sejam os homens que seu propósito de nascimento diz que têm que ser.
Entendendo isso, o que vemos na nossa sociedade são homens perdidos diante dos bons princípios, que não se conhecem e que desconhecem seu propósito. Homens que, desde cedo, têm que provar sua masculinidade, seu poder, sua valentia, sua superioridade. E com isso, temos seres que não se permitem o simples ato de chorar e/ou mostrar sua fragilidade.
O que temos são homens imaturos, que não respeitam as mulheres, sejam suas parceiras ou não, e que acreditam que o mundo está aos seus pés.
A autoestima desses homens e desses meninos é guiada pelo ego, que, a todo momento, os coloca num lugar de superioridade, invencibilidade e egocentrismo. A sua forma de se ver no mundo está totalmente deturpada e destruída, e, com esse comportamento, eles destroem a vida de todos ao seu redor.
E agora, o que nós, como mães negras dos futuros homens e futuras mulheres desse país, podemos fazer para que essa realidade mude?
Acredito que devemos começar nos fortalecendo e nos empoderando, entendendo nosso papel e reconhecendo o nosso poder como mães negras. Assim, empoderaremos nossas meninas e, para nós, mães de meninos, permitiremos que eles sintam, falem e sejam ouvidos, ensinando-lhes a importância e essencialidade do respeito e honra às mulheres para validar a sua existência e jornada.
Referencia bibliografica:
Somé, Sobunfo. O Espírito da Intimidade- Ensinamentos Ancestrais Africanos sobre maneiras de Se Relacionar.
Muito bom vc trazer essa referência e esse alerta. Somos o ventre do mundo e as responsáveis pela educação. Mudamos a forma de fazer e fazemos a revolução a mudança pode estar em cada uma de nós. A começar pelo Amor próprio ✊🏾🙌🏾
Perfeito!!!!! E o caminho é esse mesmo nos empoderarmos e cultivar esses ensinamentos às nossas crianças para que haja uma mudança efetiva nos comportamentos futuros.